Parafraseando o grande Tom Jobin, trabalhar em casa é bom, mas é uma m****.
Já trabalhar na agência é uma m****, mas é muito bom.
Há muito tempo atrás, no antigo normal, já passava muito do meu tempo em regime de teletrabalho: tinha o meu chefe e o meu Planner em Paris, o meu diretor de serviço a clientes em Dublin, os meus criativos em Amsterdão, Buenos Aires, Nova Iorque... e eu aqui em Lisboa. Muita videoconferência, whatsapps e keynotes a correr de um lado pro outro, em dias que começavam muito cedo e terminavam muito tarde.
Mesmo tendo este head start, e estar familiarizado com os 7 estágios do teletrabalho (da euforia libertária de poder ir ao super num dia qualquer às 16:27, à depressão de não tirar as calças do pijama...), nada me preparou para esta sensação desconfortável que é o confinamento.
São tantas horas entre as mesmas 4 paredes, que acabas por fazer colegas novos, no meu caso, a minha janela.
A minha janela é bestial. Quando começo a ver tudo negro, vem de lá um raiozito de sol. Quando o silêncio começava a sufocar, de lá vinha o saudoso ritual de aplaudir os heróis da pandemia.
De tanto partilhar o home office com essa janela, esta sensação trancafiada e claustrofóbica foi dando lugar à inspiração de que fazemos parte de algo maior, de uma sociedade que quer continuar a ter motivos para seguir em frente.
Porque por mais que estejamos fechados, há um mundo lá fora e a nossa profissão ganhou uma utilidade nova. Ou melhor, várias. Dar alento e esperança - sim, sim... os manifestos. Mas também inspirar marcas a criar novas formas de atuar, ajudando a manter postos de trabalho, quando tudo parece perdido.
O primeiro confinamento me apanhou em Madrid, em pleno olho do furacão Covid. A McDonald’s que era meu cliente na altura, teve todo o seu negócio pausado. Nem restaurantes, nem take away, nem delivery. Nada. Mantivemos a marca viva e útil. Fizemos masterclasses com o Chef 3 estrelas Michelin Dani Garcia a ensinar as pessoas como fazer Big Macs e McNuggets com o que tinham na despensa. Criamos uma hora do conto Happy Meal todos os dias para distrair os miúdos e ajudar os pais a descansar alguns minutos. Até inspiramos a marca a abrir um restaurante em pleno confinamento para servir ao pessoal médico do Hospital de La Paz menus personalizados com mensagens recolhidas nas redes sociais da marca. A face mais visível de todo esse esforço é o Big Good (https://www.biggood.es) um projecto solidário do qual tenho muito orgulho de ter feito parte. Nascido no departamento criativo da agência esse hambúrguer é feito exclusivamente com ingredientes provenientes de produtores afetados pela crise económica gerada pelo Covid em Espanha.
Da minha janela também vi que a Budweiser teve a clarividência e a coragem de transferir o budget milionário destinado ao desporto profissional aos profissionais da linha de frente nos EUA. E ainda foram generosos o suficiente para fazer um belo filme para comunicar a iniciativa (https://www.youtube.com/watch?v=-Y1ZpEikZ5U).
Felizmente, a janela também tem por hábito me ajudar a enxergar mais longe. Foi assim no último Outubro, já em Lisboa, na maravilhosa LOLA Normajean, ainda vivendo a tranquila descontração de um Verão quase normal que ainda se sentia, que em conjunto com o nosso Cliente Intermarché fizemos a campanha para um Natal que seria diferente, por mais que não quiséssemos. Mas, com certeza um “Natal do tamanho que o seu coração quiser” (https://www.youtube.com/watch?v=XRi2U5Q-FDw). Espero que 2021 também seja do tamanho que coração do querido leitor queira.
Já agora, a minha janela pede que mande beijinhos e abraços.
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